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terça-feira, setembro 27, 2005

Sempre o Amor...

Há amor amigo
Amor rebelde
Amor antigo
Amor de pele

Há amor tão longe
Amor distante
Amor de olhos
Amor de amante

Há amor de inverno
Amor de verão
Amor que rouba
Como um ladrão

Há amor passageiro
Amor não amado
Amor que aparece
Amor descartado

Há amor despido
Amor ausente
Amor de corpo
E sangue bem quente

Há amor adulto
Amor pensado
Amor sem insulto
Mas nunca tocado

Há amor secreto
De cheiro intenso
Amor tão próximo
Amor de incenso

Há amor que mata
Amor que mente
Amor que nada mas nada
Te faz contente me faz contente

Há amor tão fraco
Amor não assumido
Amor de quarto
Que faz sentido

Há amor eterno
Sem nunca talvez
Amor tão certo
Que acaba de vez

Há amor de certezas
que não para a dor
amor que afinal
é amor
sem amor

O amor é tudo
tudo isto
e nada disto
para tanta gente é acabar um amor igual
e começar um amor diferente
Sempre para sempre
para sempre



"Sempre Para Sempre"
Musica: Ricardo Sotna e Gil do Carmo
Letra: Miguel A. Majer
Donna Maria

quinta-feira, setembro 22, 2005

A união de facto

Quinta feira 22 de Setembro. Horas antes do meu aniversário.

Recuso-me a admitir que vou casar os anos. Prefiro antes uma união de facto.
Quando regressava a casa num comboio á pinha, recordei vários dias 22 de Setembro ao longo dos tempos. E a forma como me permiti entrar no ano seguinte... sem bater na porta...sem limpar os pés... sem pedir licença. Muitas vezes a sorrir. Outras ansioso. A beijar... A chorar.

Hoje vou fazê-lo diferente. Vou deitar-me por volta das 23h, despreocupado. Muito perto do Zen. Fechar os olhos...dormir...e se ele me deixar, entrar em 23 a sonhar.


4ª entrada no Caderno Azul : "Se um pássaro duvidasse das suas asas, despenhar-se-ia.
Esta é a segunda regra. Tens de acreditar..."
Curta-metragem na 2: 19/09/2005

segunda-feira, setembro 19, 2005

Semi-breve

Agora que sobrevivi ao Verão e arregaço as garras para o ataque Outonal. Fico a pensar no que seria de mim sem música.
Se estaria hoje e agora, aqui... sem música.

E recordo-me da frase de um senhor de meia idade. Respondendo a um jornalista sobre o dia em que todos os anos, cds ficam a 5%.


"Quando os meus amigos me perguntam se existe vida para além da morte. Eu pergunto-lhes:


- E Música? Há Música para alem da morte? É que se não houver, não quero..."



a escutar Cidade De Deus Remixed.

Solidão por Jazz

"In my solitude you baunt me
with reveries of days gone by.

In my solitude you taunt me
with memories that never die..."




Billy Holiday - Solitude (With Nina Simone And Ella Fitzgerald)

in Inventar a Solidão de Paul Auster.

sexta-feira, setembro 16, 2005

Esperei toda uma vida por uma noite assim

[ 2/2 ]


Fiquei rapidamente ofegante. Desviando-me de caixotes do lixo e outro tipo de lixo da noite.
Cansado de procurar, reparei num grupo de tipos sentados ao lado de um bar. Estavam a beber umas litrosas.
Decidi não perder mais tempo. Não fossem chegar as 4h e fecharem todos os bares. Um mostrou-se logo pronto a ajudar. Tirou um mapa do bolso e desatou a dar indicações, ignorando o facto de o mapa estar ao contrario. Depois rodou o mapa umas quantas vezes e...

- Oh, vou lá contigo - para minha desgraça.

Quando sigo rua abaixo, acompanhado dos meus dois novos "amigos", olho para trás e vejo um vulto envolto numa manta vermelha. A correr na direcção oposta. A agitá-la, que nem o batman.

3ª entrada no Caderno Azul : "Más ideias hoje, podem ser aceitáveis amanha" Pedro Felix 14/09/2005

Primeira à esquerda depois segunda à direita. Assim, como o "amigo" me disse, estava na Rua Diário de Notícias.
Continuámos a descer e acabei por reconhecer a zona verde que o César havia referido antes. Aproximei-me de uma janela aberta e, enquanto os meus olhos se habituavam á luz e movimento no interior do bar...

-Hi! Come on in! - disse a moça oriental acenando, enquanto dançava acompanhada das suas amigas.

Os meu "amigos" olharam um para o outro incrédulos. Pensei que fossem entrar comigo e tudo acabasse por ficar uma enorme confusão. Felizmente ficaram na rua encostados num carro, a observar para o interior do kamassutra bar.
Entrei e fui direitinho ao balcão. Depois de tanta corrida estava com a secura. Sentei-me num lugar perto da saída. Com melhor vista para a pista e de fácil escape caso algo corresse mal. A asiática e a loira convidaram-me para dançar, do meio da "pista". Rejeitei o convite apontando para o copo á minha frente. Hipotequei tudo nesse preciso momento. Dois tipos garanhões foram ao encontro delas e começaram a conversar, ao mesmo tempo que dançavam. Não sei se seria o efeito teaser mas, de vez em quando, a asiática fixava os meus olhos enquanto ouvia, dançava e falava com o interpelador.
Acendi um cigarro e preparei-me para sair. Quando olho para a saída, estavam os dois amigos encostados ao carro . A observar, a acenar. Não tinha uma saída fácil. Mas ficar poderia ser muito mais humilhante que sair.
Continuei a beber a minha imperial, dando longos bafos descomplexados. Continuei a observa-la. Sempre que me olhava, acenei para sentar-se ao meu lado. Isto deve ter sido pelo menos duas vezes. Agora que aqui estava, que ninguém me conhecia, não tinha nada a perder.
Passo a passo aproximou-se da cadeira e sentou-se, fazendo-me companhia também na bebida. Perguntou o que era feito dos meus colegas. Quando lhe informei de tudo, achou piada e agradeceu a ousadia.

- You know. We Portuguese, can't refuse an invitation.

Perguntei-lhe se eram de Inglaterra, devido ao sotaque. Disse-me que eram francesas, da terra do champanhe, mas que tiveram dois anos na Irlanda em Erasmus. Isso justificava muito. Principalmente a facilidade com que bebia a imperial, ou Baby beer como lhe chamava. Para a prova final, sugeri que me dissesse uma coisa em francês. Qualquer coisa.

- Je suis tres content parce que tu est ici. - disse.

Sorri e retorqui o que percebi, em Inglês. Afinal, três anos a cabular verbos tinham servido para isto.

Continuámos numa conversa agradável. Sobre banalidades. Sobre os seus traços (muito) visivelmente orientais.

- I'm from Korea - respondeu.

Apesar de ser estranho o bastante, estar a falar com uma francesa-coreana que falavam impecável inglês por ter estado na Irlanda, cinco anos de jornais ensinaram-me algumas coisas sobre a coreia. Não existe uma só. A do norte, capital Pyongyang, é uma ditadura comunista. A do Sul, capital Seul, é uma republica. Daí ter perguntado:

- Wich part of Korea?
- The nice side! - disse ela, rindo.

Depois a loira interveio, e puxou-nos para dançar.
O som estava fantástico. Acho que YMCA basta para explicar o que quis dizer com isto. E sim, estou a ser irónico.
Elas cantavam a altos pulmões, e eu ria-me. Neste momento tudo parecia encaminhado para uma noite, no mínimo, interessante. Mas quando menos se espera há sempre alguém que persiste, há sempre alguém que não aceita um não (quase como a canção). Os dois mesmos tipos de antes começam a dançar ao pé delas bloqueando-me o caminho. Formando um novo círculo com um ponto no exterior, eu. Continuo a dançar, demasiado frustrado para desistir. Depois de ver muita conversa achei que o meu tempo tinha acabado. Olho para o lugar onde antes estava, e vejo o meu "amigo" conversando com a portuguese connection das francesas. Que Sorri para mim e acena.
A música mudou de ritmo, olhei para o lado, e estava a loira. Não pensei duas vezes. Puxei-a e comecei a dançar á pimba. Em pouco tempo pares foram-se formando, deixando os dois tipos especados no canto da pista. Para culturas diferentes até entendiamo-nos bastante bem. E, talvez pela sua cultura francesa, não estranhou quando a apertei de encontro a mim.
Na música seguinte, as duas decidiram fazer par. Por ter feito algumas caretas, convidaram-me para me juntar.

Éramos três. Três diferentes vidas dançando abraçadas.
Seguiu-se uma mudança brusca na musica, para slow. E a loira deixou-nos, ficando eu a fazer par com a coreana.
Não sei ao certo. Com certeza que foi mais que uma música mas...

"Quis saber quem sou,
o que faço aqui.
Quem me abandonou.
De quem me esqueci."



Disse-lhe que era uma música que simbolizava a revolução de abril, ignorando as minhas duvidas sobre isso no momento. Colocou o braços á minha volta. (Re)Começámos a dançar.

Como era gentil o toque dele. Percorria as minhas costas com as suas mãos de seda como se fossemos chegados. Tão chegados como os nossos corpos estavam. Havia uma empatia no dançar, no encontro de olhares. Na cumplicidade dos sorrisos.

"De quem eu Gosto,
nem ás paredes confesso."


Quando Amália ecoou nas paredes, tentei traduzir-lhe a letra. Tive muita dificuldade em faze-lo. Paredes não são walls. Confesso não é tell. E achei por bem começar por baixo. Tentei explicar-lhe o significado de saudade, de nostalgia. Mas não havia tradução possível.

- Do you want to go outside? - disse ela.

Fiquei incrédulo.
Quando saímos e a porta fechou-se atrás de mim, a rua era nossa. Ela encostou-se á parede e falámos mais um pouco.
Perguntei de onde ela era exactamente, quando deixava Portugal. E dei por mim a contar-lhe da minha "gata francesa".

- If you don't want to, you don't have to! - disse ela de olhos no chão.

Não estava a perceber nada. Estava tudo a correr tão bem! Para quê estragar tudo agora? Se o clima estava a nascer para quê forçar?
No fundo não era nada disso. Não sabia cheirar o momento, nunca soube. Não queria deitar tudo a perder cedo demais.
Perguntou se era alguém? Se tinha mais alguém...namorada, amiga especial...

- Cu's guys normaly kiss!

Não podia estar a ouvir aquilo. Como era possível estar tudo á minha frente. Tudo tão directo! E mesmo assim eu pensar numa outra coisa que ela estivesse a dizer. Não podia ser verdade. Eu não estava a ouvi-la a dizer aquilo de cara baixa.
A porta bate com violência. Abre-se novamente e um rapaz grita:

- Não volto a repetir! BAZA! Eu não tou a trabalhar! Quando é pra bazar BAZAS! Tou farto destas merdas! És sempre assim. - Gritava o porteiro.

A loira veio á porta e chamou-nos para entrar rápido.
O problema tinha a forma de dois gajos, os de antes. A musica morreu nesse instante. As luzes foram desligadas excepto as do bar, ficando um ambiente de luz negra no resto da sala. Os tipos falavam alto, uma moça gorda ameaçava expulsá-los á pancada. Apesar de parecerem amigos.
A coreana perguntou-me o que se passava e tentei explicar-lhe.

- That girl there said "Don´t tell me to fuck off or I'll punch you in the face"

E ficámos assim durante uns minutos. Eu traduzia á coreana, e ela traduzia á sua amiga francesa.

Fomo-nos sentar nos mesmos lugares onde estive no inicio da noite. Falámos de idades, de bebidas. Aí contaram histórias sobre as suas experiências na Irlanda. E foram aparecendo pessoas. Não sei como. Não me lembro como chegaram mais 5 pessoas sem dar por isso. Mas apartir do momento que chegaram, pertenciam.
Um tipo, era o que de mais parecido com o beavis vi até hoje (da série da MTV). Tinha aspecto de metaleiro. Brincos cabelo comprido. E um riso histérico. Dos tipos mais bacanos que conheci naquela noite.
O amigo indiano que fazia 32 anos naquela noite. A portuguesa que fazia o trio com as francesas. E um senhor de bigode que ninguém sabia quem era. Com um hilariante sotaque inglês indiano (como Apuh dos Simpsons). Era uma noite tão repleta de histórias. De histórias dentro das histórias. De pessoas. De pessoas a falarem de pessoas.

Depois saímos todos do kamassutra e fiquei a olhar para a coreana. Sem saber o que dizer. Não queria que a noite acabasse ali.
Ela aproximou-se de mim. Perguntou-se se tinha de ir embora. E assim que disse que não, fez um sorriso que soube a Amo-te. Daqueles que nos aquecem por dentro. E deu-me a mão.

Uns despediram-se, e os que ficaram seguiram rua acima. Em cada esquina parávamos por razão nenhuma. Nada estava aberto aquela hora. Eu aproveitava, e abraçava-a. Não conseguia compreender esta minha vontade de a abraçar, de a beijar. De não precisar de usar nenhuma linguagem que não a do afecto. Que apesar de não a conhecer de todo, aquela noite pertencia-nos. E nós juntos, á noite.

Depois de muitas paragens, um rapaz de olhar vazio passou por nós e perguntou.

- Olha desculpem. Não viram um gajo de manta vermelha ás costas a passar por aqui?

O olhar dele era estranho. Senti um arrepio quando me olhou, muito próximo da minha cara.

- Pah, por acaso até vi! Mas foi ha umas 3h atrás. Pelo menos! - respondi.

- Pois, era eu! Mas roubaram-ma! - retorquiu ele.

Fiz um esforço imenso para não me rir na cara dele.

- Estas a ver esta cara? Decora bem esta cara! Eu vou estar aqui amanha, e depois...até encontrar a minha manta! Ela custa 15€ mais portes de envios, vai demorar uns 3 meses a chegar. Mas eu não descanso enquanto não a encontrar! Não te esqueças! Se os vires diz que eu estou aqui! - disse ele.

Nesta conversa toda, o mesmo olhar vazio. Sem nunca pestanejar.
Desceu um pouco e fez a sua saudação ás raparigas. Levantou o seu gorro com carrapito e segurava-o durante instantes sobre as suas cabeças. Quando tentou fazer isso ao indiano (aniversariante) as coisas azedaram.

- Tu não volta a fazer isso a ela! Não volta! - disse o indiano afastando o gorro com violência.

O "homem da manta" volta-se de novo para mim e despede-se.

- Boa sorte na procura da tua manta! - disse eu em tom amigável.
- Quero lá saber da manta! Quero é gajas. - respondeu o "homem da manta" esboçando um sorriso.

Seguimos rua acima, depois de passar o largo Camões. Em direcção ao Adamastor. A loira, não conseguia afastar a ideia que teria de acordar as 9h30 para ir trabalhar, e teve de ir-se embora. Deu um forte abraço á coreana, e despediu-se.

Chegámos ao Adamastor. Um miradouro onde nunca estive antes. O sol já tinha nascido. Os cacilheiros atravessavam o rio, e os carros a ponte. Ela foi ate até á beira do miradouro e acompanhei-a.
Esperei uma reacção. Mas ela limitava-se a olhar, triste, para o rio.
Aproximei-me dela, e envolvi os meus braços nas suas ancas. Assim, de caras viradas para o dia. De costas voltadas para o Passado.
Encostei a cara junto á dela, e não parava de pensar como tudo era irreal. Como o seu cabelo era macio, como cheirava bem.
Aproximei os meu lábios do seu ombro torrado do sol, e beijei-o. Não pensei que soubesse tão bem. Esperava sentir alguma náusea. Algum arrependimento. Mas nada. Arrastei os lábios de encontro ao pescoço e toquei-lhe ao de leve com a língua. A sua cabeça abanou em tom de arrepio.
Subi os braços, e abracei-lhe o tronco cobrindo os seios. Ela abraçou os meus. E permanecemos assim, enquanto metros atrás, o (que restava do) grupo rodava um charro.

Não conseguia controlar as ideias. Tomaram conta de mim e não conseguia parar de rir.

- Are you Laughing at me? - perguntava ela.

Eu jurei-lhe que não. Tentei explicar toda a situação. Como tudo era surreal. Que não conhecia ninguém ali. Que esperei toda uma vida por uma noite assim e agora, não sabia o que fazer.
Mas á terceira vez, ela fartou-se. E foi sentar-se junto com os outros.

Conversei um pouco, não sei bem do quê. E estranhava como se riam de qualquer coisa que dissesse. Que ninguém se atrevia a perguntar "Mas quem és tu?".
Agora que escrevo tudo isto (passado uma semana), suspeito que o charro teria alguma coisa a ver com o assunto.

Fui sentar-me ao lado dela. Ela envolveu um braço nas minhas costas, fez carícias de quando em vez.
Fiquei a olhar-lhe durante muito tempo, enquanto ela ouvia a conversa. De nuca voltada para mim. Não sei quanto ao certo. O tempo exacto para começar a crescer uma vontade dentro de mim. De não querer dormir, de não querer acordar.
Puxei-lhe a cara, abrandei. Ficámos aquele instante a olhar... olhos nos olhos... lábios próximos. Que me assombra durante estas noites. E beijei-a.

Saímos do Miradouro rua abaixo em direcção ao Metro. Não percebia a falta de iniciativa dela agora. Será que teria estragado tudo com aquele riso incontrolado?

- You don't have to, if you don't want to. - disse, brincando.

Ela riu-se, e seguimos de braços envoltos um no outro, rua fora.
Os vários elementos da noite foram-se despedindo um a um, até só restar eu a portuguese connection e a coreana. Perguntei-lhe se queria o meu número. Ela deu-me um talão multibanco e caneta onde escrevi:

"Para que esta a noite nunca acabe...9652*6*06."


Perguntou-me o que queria dizer, que não percebia português.

- I'll tell you in our next date.

Prosseguimos calados com alguns sorrisos espontâneos pelo meio. Até ser a estação delas. Aproximei-me e ela deu-me dois beijos na face. Abanei a cabeça. Puxei-lhe o queixo e beijei-a nos labios.
Chegámos á estação. Ela saiu com o papel na mão. E já do lado de fora do metro acenou um adeus, de sorriso nos lábios. Acenei de volta. Ouviram-se 3 bips... as portas fecharam-se. Encostei-me no banco com os pés sobre o da frente. E mexi os lábios sem fazer qualquer som, dizendo:

- "Mas que noite".

A metro prosseguiu túnel dentro aumentando a velocidade. Alguns metros acima um carro apitava no desespero do pára-arranca. Um senhor de meia idade bocejava. E o sol já ia no alto.

quarta-feira, setembro 14, 2005

Trem Azul

O Cabelo colado à testa, despenteado.

Os ombros descaídos, magros.

Uma tshirt branca, amarrotada. Coberta de pequenas manchas negras.

Agora que observo o meu reflexo, apercebo-me que faz dias que não me via ao espelho. A pouco e pouco vou-me apercebendo dos acordes de Daniele, que aquece o saxofone. Giovanni e Gonçalo discutem os arranjos para o início do concerto.
São 20h05 e o Trem Azul está repleto de amigos e amantes de Jazz. Estamos todos nervosos. Sempre foi assim.

2ª entrada no Caderno Azul : "Odeio-me! Odeio-me por Adorar tanto, Adorar. " 02/09/2005 23h57

Giovanni repete os mesmos erros do ensaio. Olho para ele à espera de um sinal. As teclas continuam fora de ritmo e Gonçalo, no baixo, vai repetindo os seus acordes. Daniele farta-se de esperar pela sua entrada e vai para o canto. Forço mais a pedaleira, mas era tarde demais. Tive de explodir. As mãos ganharam velocidade. Os pratos não paravam de vibrar e o baixo fez-me companhia.
O Gonçalo sempre gostou mais disto. Da génese do improviso. Fechou os olhos e, abanando a cabeça palitoide, acelerou o ritmo e extremou a tensão nas cordas. Daniele entrou em cena. Deu um safanão nas pautas repletas de breves e claves de sol. Fixou os olhos em algo que nós nunca chegámos a descobrir, no horizonte.(Como é típico nos bons momentos dele). E fez o saxofone ecoar nos tímpanos dos presentes.

O público estava a gostar. Alguns abanavam a cabeça ao ritmo do nosso som caótico, des-pautado. Giovanni faz-me sinal e mostra-me o ritmo com as mãos. Daniele entra num ritmo mais calmo e reconheço os acordes. Foi a tocar esta música que te vi pela primeira vez. Num outro espaço, numa outra época.
Fecho os olhos para não ter de chorar, mas o saxofone é demais para mim. As lágrimas escorrem face vermelha abaixo. E um coágulo (á muito preso na minha perna) liberta-se. Viaja pela minha corrente sanguínea até alojar-se no meu coração, causando-lhe uma paragem subita.

Um enorme BONG ecoa pela sala e caio sobre o tambor, estatelando-me no chão. Um imenso formigueiro consome-me o corpo adormecido por uma dor no peito. De olhos abertos a olhar para o tecto, vou perdendo a melodia que me mantém vivo. Um a um, os meus instrumentos vão-se calando e vou perdendo o tom da vida.

O tocar do baixo... lá fora carros aceleram tentando fugir ao transito, e as minhas pupilas dilatam.


NA - http://www.tremazul.com/

domingo, setembro 11, 2005

Sem Nome

[ 1/2 ]

Hoje a noite é de tributo a Dizzy Gillespie, com Johannes Krieger no trompete,
Johnny e Lil'John como d.j.'s e PTV a manipular as imagens em pano de fundo.
Continua uma das melhores iniciativas da noite lisboeta em 2005, as Lisboa Jazz
Sessions, da Cooltrain. O começo do Verão foi marcado com pequenas enchentes à
quarta-feira à noite na Bicaense. Setembro já tem programação, com as sessões
intimistas em redor de uma banda jazz garantidas. Há boas razões para voltar a
Lisboa depois de férias, e aqui pretendemos não deixar escapar nenhuma. Meeting
at Bica!



Ao ler a lecool não podia estar mais de acordo. Todas as noites são boas para jazz ao vivo.
Convenci o colaço a ir, apesar de inicialmente ter outra companhia em mente.
Ao subir a bica, escorregando nos carris do elevador, algo faltava. Apesar de ser 4f faltava vida no bairro. Continuámos a subir á procura da Bicaense que estava mesmo ao nosso lado. Rodeada de noctívagos de copo na mão. Entrámos com a esperança de ainda ouvir um contrabaixo, uma nota que fosse, para que tudo valesse a pena. Apesar das horas tardias.
Escadas, o arco, cabeças e luzes azuis. Blues. No interior um ambiente contagiante. As notas rasgadas por um trompetista de óculos redondos e barba enriçada. Os movimentos de improviso do presentes, tal como as notas. A vontade de que o fôlego não lhe faltasse, que nunca tivesse de sair dali. Eternamente de testa suada e copo na mão, ao sabor das notas.

1ª Entrada No caderno Azul : "Há Vida, para alem do Amor." 01/09/2005

Saímos da Bicaense e fomos á procura de um bar sem nome. O bar cujo nome era "sem nome", onde estaria um colega do colaço. As ruas do Bairro estavam à pinha. Principalmente se pensar-mos que era uma 4ªF. Por momentos tive compaixão pelos moradores do Bairro. Mas só por breves momentos. O Bairro não dorme.

Percorremos as mesmas ruas várias vezes. Rua de Sta Catarina. Rua da Rosa. Rua da Atalaia. Mas sem nunca encontrar a mais movimentada. A Rua Diário de Notícias, onde provavelmente estaria o bar sem nome.
Acabámos por encontrar a rua e depois de a percorrer por inteiro, até ao cimo escuro e mal frequentado, entrámos no sem nome.

O bar estava vazio. Excepto para um casal numa mesa, e um senhor de meia idade ao balcão. Reconheceu logo o Colaço, convidando-nos para sentar.
O César é um conhecedor e frequentador do bairro. Já teve o seu próprio espaço da noite, como ele próprio nos disse, mas as coisas não deram certo. Como muito do que se sonha na vida. Neste momento trabalha em dois ou três empregos diferentes. Um deles foi onde teve o prazer de trabalhar com o colaço, nos últimos três anos. Outro é um biscate no "palpita-me". Espaço famoso no bairro pela imperial barata, noites de Karaoke e musica ao vivo. Preferidos dos camones.


Agora Cesar estava a ajudar o seu amigo nas primeiras semanas à frente do sem nome. O sem nome era antes uma tasca com aspecto de tasca e frequentadores de tasca. O jovem magro, pálido e de brinco de ouro, fora antes empregado dessa tasca. Tornou-se patrão e investiu para mudar o aspecto do espaço. Tornando-o num bar vermelho e acolhedor.
Três imperiais estavam agora sobre o balcão. Gotículas de espuma escoriam de copos esguios ao encontro do balcão castanho.

- Põe na minha conta! - disse César para o pálido.

Falámos sobre a noite. Sobre as histórias do bairro. Os dealers do bairro. Até ficarmos sem histórias.
O colaço continuou a falar com o seu amigo, sobre o emprego e assim. Eu e o Zé sobre o Arkanoid e assim. E três raparigas bebiam os seus copos encostadas ao pilar.
Sem nada para fazer, foquei a minha atenção nelas. As três falavam um inglês, com sotaque inglês, de forma que não imaginei outra coisa que não fossem inglesas. Riam muito e falavam alto. Olhavam e comentavam de seguida.
Uma despertou-me a atenção. Tinha traços asiáticos que lhe acentavam perfeitamente. Sempre que ela bebia do seu copo, fazia um olhar.

Depois vieram os jogos. Não me intimidei e continuei a olhar, fazendo um sorriso tolo de quando em vez. Certo momento ela fixou-me. De uma forma tal que fiquei preso no seu olhar oriental. Sorri e ela sorriu de volta. Tudo estava a ser fora do normal.

Acendo o último cigarro. A loira pede-me ao longe um cigarro, e eu que o tinha acabado de acender. Disse-lhe que era o último. Mostrei o maço vazio. Ela insistiu. Para pedir ao "you'r friend"(referia-se ao César). Disse-lhe para ela própria lhe pedir. Depois de ela insistir umas quantas vezes, consegui convencela a pedir a ele. Infelizmente (ou não) ele também não tinha.
A loira passou nas minhas costas e de volta ao pilar onde estavam as suas amigas. Dois indianos, que nem tinha dado conta que estavam com elas, convidaram-nas a sair do sem nome. Já estava a espera que isto acontecesse. Olhei uma ultima vez para a beleza asiática temendo nunca mais a ver. E é aí que a loira e a asiática vêm até ao pé do Zé e de mim e...

- We are going now to the Kamasutra bar, wanna come?

Expliquei-lhes que estávamos com um amigo, que tínhamos de ir embora em breve.
Informaram-nos que tinham bebidas grátis no tal bar, e brinquei dizendo que então podíamos todos beber.

- No way! you'r the boys. You'r the ones that pay us drinks.

Disse-lhes que estavam enganadas. Que em Portugal funciona ao contrario. São elas que pagam copos a eles.
Deram umas gargalhadas, fizeram-nos prometer que lá aparecíamos.

Quando o Colaço chegou da WC e as viu a dizer adeus, ficou sem perceber nada.
Já era tarde e saímos do bar. Descemos a Rua Diário de Notícias enquanto o César tentava convencer-nos a ir ao Kamasutra bar.

- Se elas convidaram têm de ir - dizia.

Afinal era só uma noite de Jazz na Bicaense. Todos tínhamos muito que fazer no dia seguinte.
Enquanto me convencia disto, o César indicava-nos onde ficava o Kamasutra.

Despedimo-nos dele e seguimos Rua da Rosa abaixo. Aí estavam um grupo de adolescentes numa conversa acesa. Uma morena simpática correu na nossa direcção:

- Vocês gostam de música africana?!

Eram todos putos ricos, via-se. Mas não perdi a chance de me rir um pouco.
Meti conversa com ela. Questionei-lhe os estilos de música. O respeito dela pelos outros. Pelos gostos dos outros. Caramba, como ela era uma fraude como embriagada e ainda mais como mulher!
Deu-me o braço e continuamos a descer, e a discutir. Depois de fugir um pouco de caminho, despedi-me desejando felicidades e recordando o toque macio da pele dela.

Quando ia prestes a descer o elevador da Bica...

- Desculpem. Eu sei que vão achar que estou a brincar. Que estou a ser parvo, mas. Eu tenho de fazer isto. Se não o fizer vou estar daqui a umas horas na cama a pensar no assunto. Tenho de o fazer. Tenho de ir ao Kamasutra.


Quando os deixei, e passava por debaixo de um arco para tornar a subir a Rua da Rosa, pensei numa frase que ouvira antes. No Good Will Hunting (1997). Em que Sean Maguire (personagem representado por Robin Williams) explica como perdeu um jogo de baseball histórico por algo que tinha de fazer:

I just slid my ticket across the table and I said, "Sorry guys, I gotta see
about a girl."



De olhos postos no cimo da rua, sorri.

E comecei a correr.

terça-feira, setembro 06, 2005

Laughing at the Blues

Sacudo a camisa para disfarçar o cheiro a naftalina, eucalipto e outras especiarias que a minha mãe teima em colocar no roupeiro.
Olho para o espelho e penso em desfazer o penteado. O gel teima em não ficar bem nestas alturas.

Desço a rua em passo de corrida. As axilas mancham a camisa, da testa escorrem goticulas de ansiedade, toco á campainha.
Apesar de ter os passos todos estudados (beijo na testa...frase cómica) o teu brilho ofusca-me e desmonta-me o "personagem". Os teus lábios fazem música contra as minhas faces rosadas. Do habitual estilo sóbrio e encanto natural, vejo-te agora com um decote de "Angola á contra costa" e saia curta.
Enquanto me contas o teu dia, faço um esforço heróico para não olhar para esse imenso vale entre os teus seios. Apanhamos o comboio em corrida e dou-te uma chapada no rabo, enquanto sobes os degraus para a carruagem. Olhas de esgueira com um sorriso matreiro.

- Desculpe Senhor, porque pequei! - respondo eu.

Chegámos á ZDB mesmo a horas. Depois dos habituais pedidos para desligar os telemóveis, a sala escurece. Achei a altura perfeita para satisfazer a minha curiosidade. Para apreciar o teu decote e tudo o que ele oculta. Não fosse, obviamente, demasiado escuro para ver o que quer que seja.

A peça começa, o actor desmonta-se e desmonta-nos com isso. Alguns elementos do público abandonam o espectáculo sem o perceber. Sem entender que no momento em que o actor colapsa a peça começa.
As gargalhadas sucedem-se, descoordenadas, solitárias por vezes. É aqui que o jogo Actor-Público começa. Mas o público não sabe que está a jogar.

Olho para ti e sorris de olhos postos no palco. O teu sorriso ilumina-me mais que qualquer foco, que qualquer folow naquela sala.

"Dois tubarões encontram-se no imenso oceano. E nesse preciso momento sabem
que têm de amar-se. Consumam o seu amor.
Não sei se sabem mas, os tubarões
têm uma forma peculiar de se amar. O coito é demorado, o macho enrola-se na
fêmea e seguem assim por Kms. Porque se um tubarão pára, morre. Deixa de
respirar. E assim foi. Os dois tubarões permaneceram juntos, atravessando
oceanos.
Quando terminaram, a fêmea dá á luz três crias. Mas todo aquele
sangue desperta o instinto animal, predador, do tubarão. Numa dentada desfez as
crias em pedaços.
Quando termina, a fêmea está de olhos fixos nele. Através
daquele mar escarlate ele observa-a, atónito. Sem crer no que acabara
de cometer. E assim ficaram os dois tubarões a olharem-se, a afundarem-se no
oceano profundo, parados. Até morrerem."



O actor ri-se ás gargalhadas. Ri-se com a capacidade de chocar o Público. De provocar o riso com a mais triste das histórias. Depois volta a desmontar-se. A fazer-nos crer nisso.
Esconde a cara dos focos de luz. Pergunta o nome de quem está na ultima fila. De quem se ri quando ele se esquece das deixas. De quem se ri quando ele chora desesperado. Que permanece na sala quando todos saem, com a sua gargalhada:

- Há! hahaha...Há! hahaha!

Saímos da sala e cobres o decote com o teu casaco de malha. Bolas!
Supostamente a noite terminaria aqui, pelo menos para nós. Mas consigo convencer-te a ir até ao Bicaense, para uma noite de Jazz ao vivo.
Passeamos perdidos em ruelas e bares, e eu perdido em ti.

Entramos no Bicaense, sentamo-nos numa mesa no fundo da sala. Peço duas imperiais. Puxo de um cigarro enquanto a mesa está vazia.
Fixamos os olhos um no outro. Os copos descansam na mesa que nos separa. Chocam um no outro motivados pela vibração da bateria e saxofone. O cigarro consome-se.

- E se te beijasse agora? - pergunto eu, convencido de uma reacção parecida á minha de há 2 anos.

Perdi a noção do tempo quando os teus lábios predadores perseguiram os meus, num longo e profundo beijo.
Quando tornei a abrir os olhos a imperial tinha morrido, a musica acabado.

Não perguntei se era correcto. Não te preocupaste em responder. E seguimos bar fora de braço dado e cegos de desejo.
Adormecemos num qualquer banco, á espera do primeiro metro do dia.



Agora que escrevo a negro sobre as paginas azuis (como eu) deste caderno...sei que nada disto aconteceu.
E quase que oiço uma voz ao fundo. Na ultima fila.

- Há! hahaha...Há! hahaha!

quinta-feira, setembro 01, 2005

O amanhecer do Pecado

Era tarde, pensei eu. Tarde demais para me encontrar contigo de novo. Umas 22.30 e, agora, dificilmente ias aceitar o meu convite.
De qualquer das formas, logo que a janela com o teu nome piscou:

"Queres cometer uma loucura?"

Aceitas-te e em 5minitos estava á tua porta com o carro do meu pai. Pediste licença para entrar mesmo sabendo que mulheres como tu não precisam de licença para nada. Sempre foste educada.
Deste-me os beijos da praxe mas um teve um sentido diferente. Se calhar não o sentido que lhe querias dar mas. Não apenas para o ar. Foi um beijo, na minha bochecha mal barbada, com a força da saudade (espero). Tinhas um sorriso de orelha a orelha que me contagiou.
Falaste imenso durante a viagem, o que nunca fora normal nos nossos encontros.

Desde o estacionar até a entrada do shopping falaste mais sobre ti do que em 3 anos de cafés esporádicos (pelo menos). Soube o que quis saber antes, e o que não queria ouvir agora. Já devia de ter desconfiado que o charme não existe para (se) ficar só.

Não queria manchar a noite a falar dos cacos do meu coração. Já estou farto de os contar, e recontar. E tu foste perfeita. Deixavas-me embriagar com as tuas palavras, com aromas de todo o mundo. Aromas dos sítios por onde viajaste durante este verão, e das cavernas onde o teu coração andou este ano.
O segurança corpulento interveio na conversa e tivemos de sair. Fomos para onde todos os casais com falta de imaginação vão, para a beira rio.

Falámos durante largas horas, pela noite fora. Sem medo de deixar o silêncio entrar pela conversa adentro. Da voz desafinada do Karaoke longínquo que me adulterava as ideias.

A certa altura despi o casaco para me deitar com a cabeça sobre ele. De modo a ver-te, de baixo para cima, lado a lado com as estrelas. Onde pertences.
Perguntaste vezes sem conta se tinha assim tanto calor, para não vestir o casaco. E ofereceste o colo para o poder vestir. Vestir o casaco, e o colo também. Porque o colo não é casaco, mas também aquece.

- Não obrigado. Não quero pecar. - respondi ingenuamente.

Depois de alguma discussão, e de uma surpreendente insistência da tua parte...aceitei. Concordei deitar-me com a cabeça apoiada no teu joelho. Assim não estaria a pecar...assim tanto.
Não sei se eras tu se era a minha ingenuidade. Mas volta e meia tinha a cabeça no teu colo, para depois a colocar assim a meio caminho. Entre o joelho e o colo propriamente dito. Alegaste que devia de estar pouco confortável. Quase a cair, com a cabeça no joelho. E nem sabias como estavas enganada. Há tanto tempo que não me sentia tão bem. Tão calmo, tão Zen. Como na Rota do Chá (no Porto).

- Sabes o que eu lamento...é que esta noite vai acabar.

A viagem para casa foi lenta. Muito lenta. Apesar das 5h queria aproveitar ao máximo o que restava da noite. Cumpri todos os limites de velocidade e mais alguns. E quando cheguei a tua porta ficamos outro tanto a falar.
Estavas tão séria, com um ar tão cansado e ao mesmo tempo terno. Que sinceramente temi que não avisasses.

"- E se te beijasse agora?" - como me disseste há uns anos.
Que saltasses a deixa. O Acto inteiro e partisses para a ultima cena.

Mas não o fizeste. O charme tem destas coisas.

(e tu, pa variar, fizeste.m pensar!!! )


E se as horas não importassem? Se te levasse dali para fora, Sta Apolónia fora? Ultrapassando todos os noctívagos do Lux e afins. Marginal abaixo até á praia. Um galão e uma sandes de fiambre.
Se te pegasse ao colo com os pés enterrados na areia. Deixar-me ir. Deixar-me cair, rebolar na areia contigo. Beijar-te de roupa salgada, sob os primeiros raios de sol. Os últimos da noite.


Mas não...Não obrigado. Não quero pecar.