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domingo, julho 25, 2004

Paredes, eterno...


sábado, julho 17, 2004

World Press Photo 2004

 

Copyright Jean-Marc BoujuFrance, The Associated Press

 

quinta-feira, julho 15, 2004

História para não adormecer...

Era uma vez um menino.
Esse menino, sem nome, morava num bairro de pescadores da Trafaria. Esse bairro, sem nome, era de gente pobre. Mas vivia paredes meias com o bronzeador e as toalhas de gente rica, nos meses quentes.
Certo dia, o menino foi como tantas vezes até ao porão. Olhou para os reflexos do mar e ouviu os sussurros do mar. Fitou o mar durante tanto tempo que desejou fazer parte dele. E com esse desejo, o menino fez-se peixe. Mergulhou no mar e nadou. A pouco e pouco outros se foram juntando a ele formando enormes cardumes. O menino feito peixe nem queria acreditar na sua sorte. Nadava feliz, e erguia-se sobre a água em saltos olímpicos. Num desses saltos, reparou nuns estranhos bichos de bico laranja e corpos cor de prata que voavam em círculos acima de si.
Então, o menino feito peixe desejou ser gaivota. Das suas escamas fizeram-se penas e depois asas e o menino voou. Assim, o menino feito peixe feito gaivota voou em círculos como os seus companheiros do bando. De repente, voaram todos em voo picado em direcção ao mar. Mergulharam nele e roubaram um dos do cardume. O menino feito peixe feito gaivota nem queria acreditar que agora tinha no seu bico aquele que nadara a seu lado.
E desejou ser outra coisa. Desejou tanto que se tornou nessa, e noutra e outra. Tantas que chegou a ser Dragão de Komodo na Indonésia, Gato siamês em Gaza, ratazana na Índia. Cansado de tanto ser e não crer, desejou não desejar.
Mas o seu coração de criança fez com que desejasse mais uma vez. Desejou ser uma cegonha. É das cegonhas que as crianças vêm e assim traria meninos para junto de outros meninos para todos poderem brincar.
Então, o menino feito peixe feito gaivota feito dragão feito gato feito ratazana fez-se cegonha. Voou horas e dias e meses até chegar ao continente africano. Quando lá chegou viu crianças negras de pé descalço a chutar uma bola de farrapos. Ficou tão contente por ver tantas crianças juntas a jogar à bola que desejou ser como elas.
Então, o menino feito peixe feito gaivota feito dragão feito gato feito ratazana feito cegonha, fez-se menino e correu pela terra quente. Estava tão feliz que não reparou no clique que soou da terra. Tão feliz mesmo que não sentiu o elevar de um engenho explosivo até a altura da sua cabeça. A "PROM 1", conhecida como a "Bailarina", explodiu na cabeça do menino feito peixe feito gaivota feito dragão feito gato feito ratazana feito cegonha feito menino. E os estilhaços lançados pela carga voaram por 20 metros em todas as direcções cravando-se no craneo do menino que jogava a bola, trespassando o peito de outro. Um menino feito soldado feito homem, tinha colocado essa mina dias antes.

O sangue do menino feito peixe feito gaivota feito dragão feito gato feito ratazana feito cegonha feito menino, escorreu pela terra até ao lençol freático acabando por formar um rio que desaguou no mar.
O mar abraçava as rochas do porão do Bairro sem nome. O mar fez-se menino. E o menino feito peixe feito gaivota feito dragão feito gato feito ratazana feito cegonha feito menino feito mar feito menino virou costas e chorou.

sábado, julho 03, 2004

The Horror, the horror... III



Dizem as crónicas que não memorizava diálogos, escrevia-os nas paredes, nas mangas, nas mãos. Uma testemunha tentou a desmistificação: "Vinha daí o estilo dele: as pausas dramáticas, o seu olhar em volta enquanto falava. Era divertido o facto de tudo aquilo ser uma forma de se safar enquanto tentava ler o que tinha escrito nas mãos." Brando elucidou: "As pessoas quando falam não sabem o que vão dizer. As palavras por vezes aparecem como surpresa para elas próprias. É assim que deve ser num filme".

Kathleen Gomes in Público 3Jul 2004

[His last words]
Kurtz: The horror. The horror.

The Horror, the horror... II

Kurtz: We train young men to drop fire on people. But their commanders won't allow them to write "fuck" on their airplanes because it's obscene!

The Horror, The Horror I

Kurtz: I've seen horrors... horrors that you've seen. But you have no right to call me a murderer. You have a right to kill me. You have a right to do that... but you have no right to judge me. It's impossible for words to describe what is necessary to those who do not know what horror means. Horror. Horror has a face... and you must make a friend of horror. Horror and moral terror are your friends. If they are not then they are enemies to be feared. They are truly enemies. I remember when I was with Special Forces. Seems a thousand centuries ago. We went into a camp to inoculate the children. We left the camp after we had inoculated the children for Polio, and this old man came running after us and he was crying. He couldn't see. We went back there and they had come and hacked off every inoculated arm. There they were in a pile. A ile of little arms. And I remember... I... I... I cried. I wept like some grandmother. I wanted to tear my teeth out. I didn't know what I wanted to do. And I want to remember it. I never want to forget it. I never want to forget. And then I realized... like I was shot... like I was shot with a diamond... a diamond bullet right through my forehead. And I thought: My God... the genius of that. The genius. The will to do that. Perfect, genuine, complete, crystalline, pure. And then I realized they were stronger than we. Because they could stand that these were not monsters. These were men... trained cadres. These men who fought with their hearts, who had families, who had children, who were filled with love... but they had the strength... the strength... to do that. If I had ten divisions of those men our troubles here would be over very quickly. You have to have men who are moral... and at the same time who are able to utilize their primordial instincts to kill without feeling... without passion... without judgment... without judgment. Because it's judgment that defeats us.