badge

segunda-feira, janeiro 30, 2006

Insónias

abismo


Sabes... gostei de te ver no outro dia.
Pensei até que já estivesses morta. Que findasses num qualquer acidente de automóvel.

É que assim estarias enterrada num local qualquer, a 7 palmos de terra. E teria perdido o teu funeral...


É que faço questão de estar presente. Quero ver-te cair por terra.

terça-feira, janeiro 03, 2006

Um novo Ano?...




O Ar queima.
Os olhos ardem. E lágrimas escorrem-me pela lisa pele abaixo. Pelo queixo, desprovido de qualquer pelo.
O fumo, do cigarro que tenho estrategicamente no canto dos lábios, impede-me de ver a bola branca. O taco desliza apoiado pelo polegar e indicador... os palavrões por ter de sacar uma bola. Regras do jogo.
A adrenalina de estar num local para adultos. A nuvem de fumo sobre a mesa de pano verde.

As cigarrilhas consumidas ao abrigo de escadinhas escuras.

O jogo da lerpa regado a Sagres, na garagem. As raparigas do ginásio de seios salientes e palpites sobre que carta devia eu jogar.

O primeiro amor. A ejaculação precoce. A primeira bebedeira. A primeira ressaca. O coração destroçado... que ofereço sobre a forma de brincos.

Em cima do pódio, de medalha sobre o quimone suado.

No palco... as 7 pancadas... o silêncio ensurdecedor... o corpo a tremer... o esquecer da primeira deixa.

Em Algéciras. Na praia onde o Atlântico e o Mediterrâneo se beijam. De onde nunca devia de ter partido.

O frio de Granada.

A primeira vez que toquei neve, na Sierra Nevada. A correr. Escorregando no gelo sem conseguir suster o riso ou a respiração.
A chuva a transformar-se em neve.
Abrir os braços, olhar o céu. Rodopiar.
A neve acaricia-me a cara. Os flocos brancos voam numa vertigem...em direcção a mim. Só para me tocarem.

Fecho os olhos... desperto os sentidos.

O vento nos lóbulos das orelhas.

O céu a beijar-me a cara.

...


A batida da música...
Abro os olhos... o tecto de madeira.
Os corpos a balançar ao sabor da música.

Sorrio ao ver S. e C. senhoras e donas da pista. Como no filme "Romy and Michele's High School Reunion ".

Dou por mim parado, de sorriso nos lábios e copo vazio na mão. Todos os sorrisos se tornam arrasto nos meus olhos. Como fotografia de longa exposição.

Vou em direcção à W.C. Molho a face, e fico parado a olhar para o espelho. A recuperar o sentido de quem sou. A encontrar-me.
Semicerro os olhos para o outro que também era eu, e sorrio.

Viro-me para uma pequena janela atrás de mim. Embaciada pelo frio exterior. E tento limpá-la com um dedo... que toma o seu próprio sentido... que acaba por formar uma frase:

« Foi. Nunca mais voltará a ser. Lembra-te. »


Dou uma gargalhada por dar por mim a escrever isso.

Olho para dentro da frase. Das suas silabas, vogais e consoantes. E lá fora chove.



Um novo Ano?... Isso é como ficares a 1cm dos meus lábios... e esperares que não te beije.


Para Veró.