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sábado, outubro 22, 2005

Su doku

Café da Manhã


Olho para o rio e não te vejo. Procuro-te no rasto dos cacilheiros... nas minhas chagas, e não te encontro. Quem me vai apagar o cigarro agora? Era suposto teres chegado. Era suposto já cá estares há meses. Preciso da tua música! Dos teus compassos. Dos teus sorrisos fusos, colcheios... semibreves a 4 tempos.

O vento abraça e a porta abre-se. O frio rompe pelo palácio de Sta. Catarina dentro. Os menus voam, as revistas folheiam-se sozinhas. Está um belo dia.
Uma jovem entra na sala e pára em frente ao piano. Experimenta teclas. A princípio aleatoriamente. Que depois foram tomando sentido e formando melodias.
Estou a 3 páginas de terminar o livro que tenho á minha frente. "Inventar a Solidão" de Paul Auster. Um livro sobre histórias do contador de histórias. Que, por demorar tanto a le-lo, tornou-se num outro...livro meu. No Inventar da solidão que era a minha. Um livro com histórias minhas, dentro das histórias...das histórias do contador de histórias. pág. 163 «e descobriu que todas as teclas estavam em perfeitas condições. Todas, excepto uma: o fá por cima do dó central.» Enquanto a jovem toca...uma corda que parte, uma tecla que deixa de tocar, um ciclo que termina.


Apago a beata na areia e digo para comigo.

- É o último. Agora o meu vício és tu.

E tu, alheia, continuas a fitar o mar ignorando os cabelos rebeldes que se prendem nos teus lábios...te invadem as orbitas, ao compasso do vento. Ficamos horas a olhar o mar nesta tarde de Outono.
Pegas no «Público» e escreves algarismos nas pequenas quadrículas vazias. Vais-me explicando as regras do jogo.

- Sabes, nunca gostei muito de praia. -disse eu.
- Talvez nunca tenhas sido ensinado a gostar.

Empurro-te contra a areia fria, e o ar enche-se de gargalhadas. Rebolamos. O sol esconde-se.

Enquanto te beijo, fazes questão de manter os olhos abertos. "Para ver as estrelas", afirmas tu. Beijo-te mais uma vez. De olhos fechados. Não preciso de os abrir porque, sei que tenho «O Céu dentro de ti»[1].


«Ele acorda. Ele anda de um lado para o outro entre a mesa e a janela. Ele senta-se. Ele levanta-se. Ele anda de um lado para o outro entre a cama e a cadeira. Ele deita-se. Ele fixa o tecto. Ele fecha os olhos. Ele abre os olhos. Ele anda de um lado para o outro entre a mesa e a janela.

Ele pega noutra folha em branco. Põe-na na mesa à sua frente e escreve estas palavras com a sua caneta.

Foi. Nunca mais voltará a ser. Lembra-te. »

(1980-1981)


in "Inventar a Solidão" de Paul Auster.


[1]- "O Céu dentro de ti" de Graça Gonçalves.


Para B.

quarta-feira, outubro 19, 2005

Inventar a Solidão

«Ele quer dizer. Quer dizer: ele significa. Como em francês, «vouloir dire», que significa, literalmente, querer dizer, mas que significa, de facto, significar. Ele significa dizer aquilo que quer. Ele quer dizer aquilo que significa. Ele diz aquilo que quer significar.
Ele significa aquilo que diz.»


in Inventar a Solidão de Paul Auster.

terça-feira, outubro 11, 2005

Supernada

Isto começou com um artigo de jornal...

"actuação dos Supernada Algures em lisboa, a banda de Manuel Cruz."


se reparar-mos que este senhor era vocalista/guitarrista dos Ornatos Violeta, e actual dos Pluto...fica aqui no ar algo de irreal (boa música, já agora). Da impossibilidade de se estar nos dois lados ao mesmo tempo. De estarem, provavelmente, a falar de outro senhor.

...depois saquei o que se encontra na net, e aqui estão eles de novo...

Depois os sites e blogs aparecem como cogumelos. Como este. Onde está a frase... que é como chuva em Outono:

"O Conforto do Nada pela possibilidade de Tudo"

Manuel Cruz


domingo, outubro 09, 2005


5ª entrada no Caderno Azul : hoje suei a tua camisa. 25/09/05

Hoje suei a tua camisa. Desculpa mas teve de ser. O som estava bom, e tivemos de correr para apanhar cerveja barata. Saímos porta fora do lounge. Bica acima, até ao café/restaurante/bar de luzes pirosas á entrada. 0.75€ compensa o esforço. Depois invertemos o sentido. Seguimos pelas ruas abaixo, tendo atenção para disfarçar a garrafa á entrada.
Algumas manchas de humidade começam a ser perceptíveis nas minhas axilas, sob a luz escarlate e o som electrizante do señor pelota.

8ª entrada no Caderno Azul :
"A noite é feita pra sair,
é aí que tu entras... "
tipa jeitosa no meninos do rio.
28/09/05 17h57.

O Colaço avisa a sua presença e seguimos o combinado. Escadaria acima... "Espero que tudo de bom te aconteça"...por entre os carris..."Obrigado por me teres mostrado a Lua"...
Subimos a Rua da Rosa, perdemo-nos noutras tantas...e palpita-me que hoje vai haver festa.

Desbravamos caminho pelo amontoado de gente. A porta negra abre-se, e um senhor de bigode recolhe os convites que o Colaço arranjou (por intermédio do grande César).
Mal se consegue andar de tão lotado que está. Vamos até ao balcão, porque... esta noite, as bebidas são pela casa.
Pelo caminho... uma jovem de ombros descaídos, saia curta e palavras arrastadas, fala ao ouvido de alguém que se encosta contra a sua cadeira. Uma outra pede vodkas de sabores ignorando a largura do decote sobre o balcão. Beijos encostados ao pilar.
O Colaço vai arranjando os copos, que circulam pelas nossas mãos até todos estarmos servidos.
Bebo mais um golo na esperança de encontrar alguém livre. Entrámos tarde demais.

Um vulto de branco trespassa o nosso círculo. Foi impossível não reparar na pele morena que terminava nos limites do que trazia vestido. Na curva dos seus seios...onde uma gota de cerveja escorria. Toda esta realidade em câmara lenta, acelerou. Acelerou no momento em que ela sacode a gota, que me atinge. Hoje molharam a tua camisa.

- Para cima de mim também não! - disse eu.
- Vê lá, se te incomodou muito! - respondeu ela, ofendida.

Eles riam-se do sucedido. E eu esforçava-me por explicar. Levar com cerveja em cima, por mais linda que seja a mulher, não é coisa que aprecie.
Dei mais um golo na cerveja que tinha em mão. E outro...e outro. E quanto mais bebia mais me arrependia de não ter dito algo diferente. Um "Desculpa, deixaste cair isto..." e, com a ponta do dedo, entornar uma gota no peito dela.
No entanto, um casal beija-se ao meu lado, o meu copo esvazia-se...e reparo num olhar discreto. Vindo de longe. Sem nada para beber, fico de copo vazio a olhar para ela.
Um, e outro e outro e tantos. Olhares. Há aqueles que vão para além do tempo contratado. Aqueles que se tornam uma invasão de privacidade. Como se pudessem entrar pelos nossos globos oculares dentro e vasculhar na nossa memória. Nessa altura desviei o olhar, fingindo dizer qualquer coisa pertinente aos que estavam comigo.
Vou até a balcão, é a minha vez de pedir. Durante a eternidade que demoro a ser atendido, penso numa forma de mudar. De a noite acabar de uma forma diferente. Afinal, a tua camisa estava já suada.
Vou de copo cheio, até um pilar. Ela, sentada no colo de uma outra rapariga. Disparando olhares nos intervalos das frases. Nas vírgulas, pontos e parágrafos.
Bebo um último golo e avanço. Gelo no momento que me preparo para falar. Engulo em seco. Toco-lhe no ombro.

- Desculpa ter sido rude à pouco. - disse eu.

A amiga pergunta-lhe qualquer coisa. Um rapaz do outro lado diz-lhe qualquer coisa. E ajoelho-me para ficar a mesma altura.

- Desculpa, onde estávamos? - perguntou ela.
- Aqui. - disse eu, molhando o indicador no copo e passando-o pelo ombro dela. - Estamos quites.

Continua...

sábado, outubro 08, 2005

Hey Now Now

Graças ao planeta Pop descobri esta música. Cuidado, isto fica no ouvido...depois não digam que não avisei.

Hey now now, they'll find you when you're sleeping
they'll reach in and grab what you're dreamin'
cut it up and slip it back in, and I know, and I know, and I know, and I
know it

Hey now now, the smallest things are crushing me now
the crush crush crush is so comforting now
did the earth just slam in the sun, and I know, and I know, and I know, and
I know it

won't undo their past by walking and talking backwards

Hey now now, we're goin' down down
and we ride the bus there and pay the bus fare
or we find a new reason, a new way of living
and we breathe it in and try to dream again


The cloud room

Seeya Monday, Bela....

sexta-feira, outubro 07, 2005

ElectroEverything

Esta história começa há 2 anos, no dia do meu aniversário.

Exactamente a 23 de Setembro de 2003.
Grande noite no Lux com o Club Kitten e a descoberta do electropop, electroclash, electropunk, electro[colocarqqcoisaaquiquesoefixe].

Isto a propósito de um blog sobre o assunto e muito mais, que descobri recentemente.
É quase como tudo. Primeiro estranha-se depois entranha-se. Experimentem...



WHITE ROSE MOVEMENT um must.

sábado, outubro 01, 2005

O futuro está mesmo aqui, com nova gerência.

O bus parou, as portas abriram-se. E desviei-me dos transeuntes.
Olhei para os janelões onde antes bebi cafés, acompanhado de mulheres bonitas. Com sorrisos cúmplices, açucarados pela paixão. Amargos como bom café.

6ª entrada no Caderno Azul : "Reabre dia 01/10/05 (Sábado) Com nova gerência." 26/09/2005

Dois intensos meses passaram. O café, que encerrou nos dias negros, vai reabrir. A queimadura no polegar, sarou.
O futuro está mesmo aqui, com nova gerência.

7ª entrada no Caderno Azul :

"acabar um amor igual
e começar um amor diferente
Sempre para sempre
para sempre"

música de Donna Maria - 27/09/05


9ª entrada no Caderno Azul :

"Por querer mais do que a vida
Sou a Sombra do que Sou."
Ornatos Violeta - 01/10/05


10ª entrada no Caderno Azul :
"Por trás de uma História aparente
há um enredo de acasos e acidentes,
de verdades e sonhos
em que cada música leva a muitas outras
músicas.

A nossa música faz-se de todas as músicas."

CD fnac dia mundial da música "Uma outra História" 01/10/05