badge

segunda-feira, agosto 30, 2004

"Modern Times". A story of industry, of individual enterprise - humanity crusading in the pursuit of happiness.

Quarta Feira, 26 de Agosto de 2004. A primeira vez que vi Charlie Chaplin no cinema. A primeira vez que a minha Mãe foi ao cinema. Foi na casa do desporto rei, e não esperava que fossemos tantos. Uma meia dúzia ou assim. O filme era exibido com ajuda de uma maquina digital, com todos os problemas no reiniciar. E os "peço imensa desculpa, mas é a máquina digital, e estamos com um atraso de 5min.". Tinha, dias antes, visto em VHS "O grande ditador". E fiquei muito impressionado como foi possível gozar tanto com o "teatro de guerra" e sair impune. Que ousadia! Toda aquela sátira ao ditador da altura (aquele que lhe roubou a ideia do bigode). E arrepiei-me quando vi a data do filme... 1940. No Início da segunda grande vergonha! Os guetos, o imperialismo, a queda. Ele consegue descrever de forma trágico/cómica e prever muito do que aconteceu. Terminando com um discurso de largos minutos (quando raramente se tinha ouvido a sua voz em todo o filme) sobre o que todos precisávamos ouvir em tempo de guerra (tal como nos encontramos hoje). - "Let us all, unite!"

E agora estava eu, dias depois, na companhia da minha mãe para ver o "charli charp" (como ela o chama). Enquanto o gelado (de 3.80€ DASS) se derretia de encontro ao copo, falava do quanto gostava dos filmes dele na altura em que era moça. "Aquele andar desengonçado...eu achava piada".
O início pareceu-me bastante familiar. A perfeita sensação que "já tinha visto isto". Pouco depois acontece um dos momentos altos do filme. Quando uma carrinha deixa para traz uma bandeira (supostamente vermelha) , Charlie apanha-a. E movimenta-a, para chamar a atenção da carrinha. No momento perfeitamente (in)oportuno, uma manifestação de trabalhadores forma-se por detrás dele. E por segundos, ele aparenta liderar a manifestação. Que é seguidamente reprimida com investidas da polícia a cavalo. Charlie acaba por ser preso, acusado de ser o líder. Talvez por isso tenha sido acusado de "pactuar com o inimigo", anos mais tarde em plena guerra fria. Confesso que me deu o sono a meio. Mas foi tudo fruto de noites mal dormidas. Ou melhor, relógio biológico fora de época.
O filme acaba por ter duas partes distintas. A parte em que Charlie Chaplin trabalha, colapsa e acaba por ser preso. E uma segunda parte em que conhece a bela Paulette Goddard, uma órfã. Nessa segunda parte, Charlie encontra o Amor...correcção. A Amizade. O Amor não sobreviveria a tantas contrariedades.
E de peripécia em peripécia o filme dispara para um final perfeito. Talvez o único final feliz que gostei até hoje...correcção. Também gostei do final do "Fabuloso destino de Amélie". Pormenores.
Quando acabam de fugir da polícia e de perder um emprego certo, nada parece a seu favor. E sentados á beira da estrada, a órfã chora de raiva e diz:
- What's the use of trying? - Charlie responde,
- Buck up! - never say die. We'll get along!
Ela concorda. Levantam-se e caminham lado a lado na estrada. Pouco passos dados, e Charlie repara no que falta para ser um final feliz. Momento mágico. O Sorriso.
Desenha o sorriso com ajuda do dedo, e ela retribui o gesto. E caminham assim, lado a lado, pelo asfalto em direcção ao desconhecido.

Apercebi-me em vários momentos do filme, que praticamente todos os comediantes portugueses que conheço lhe copiaram os tiques. Herman, Camilo, Solnado...Mas encontrei maior ligação aos meus tios da Aveleira. Na realidade nem são meus tios, são do meu pai. Lembro-me quando ia há adega desse (meu) tio e ele me oferecia agua pé. Dizia que estava crescido. Que era "já um home". Dos abraços que a tia me dava sempre que lá voltávamos (dos mais fortes que encontrei, os meus costados que o digam). Ele tinha o bigode, e ela o sorriso. Ainda me lembro da sala caiada, do pão rijo, do cheiro a brasas e do café de cevada. E aposto que ainda ecoam naquelas paredes a voz rude dele, o riso dela e alguém que diz...


Buck up! - never say die. We'll get along!



domingo, agosto 22, 2004

Rótulos

Venho por este meio, informar-vos que não estou pra rotulagens. Sim, meus caros, nada de Rótulos. Vós que passeis a vida a rotular (eu incluído) tendes os dias contados. Mas que porra! Pelo menos que rotulem com mais imaginação. Um indivíduo de óculos e Público na mão pode muito bem não ser intelectual de esquerda. Pode mesmo nem sequer saber o que isso quer dizer. Lá por se endividarem em milhões, e por levarem o seu país á miséria, não quer dizer que os Srs. do governo Angolano sejam corruptos. Muito menos que todos os dirigentes políticos o sejam! Existem muitos que não o são...não me estou a lembrar de nomes, mas algum deve de haver. Algures.
Até mesmo os nossos mortos estão rotulados... de isso mesmo. Algures no epitáfio está um erro crasso. Não. Não é nas eternas saudades dos filhos, netos e do cão. Alguns são mesmo honestos em toda aquela cerimónia da morte. Com a lágrima no olho, a voz a tremer e o olímpico mergulho para junto do morto. Alguns destes gestos são mesmo autênticos(!) e não apenas para delícia dos presentes. O erro encontra-se bem no início. Na data da morte.
O troglodita do espermatozoide não o sabe. Mas ele é o fio condutor de tudo isto. Com o seu Mitocondrias e o ADN na ponta (pelo que me lembro de CTV). Energia e Descendência.
O nosso querido morto é indigno desse nome. Ele vive em todos nós. Foi o responsável directa ou indirectamente no o bang que nos precedeu.

Um valente jogo de rins e volto ao tema que me trouxe aqui.
Se nem os mortos podem ser rotulados daquilo que o (não) são, então o que resta pra rotular? Bem... muitos gostam de perder tempo comigo. Aqui vão alguns exemplos:
Coitadinho, temperamental, infiel, fodilhão, distante, burro (esse animal raro!), atrasado, falabarato, desorganizado, labrego, cínico...
e a lista continua. Alguns chegam mesmo a ser apreciativos... embora não me recorde agora (mais um momento do eu modesto/cínico).

Meus caros...o caraças! Um rótulo custa uma pipa e alguns de vocês fazem-no aos milhões! Só podem ser todos muito ricos, e por sua vez muito baratos. Por isso...
Meus baratos... se não o conseguem evitar, rotulem com mais imaginação. Acreditem que é mais bonito andar cheio de post its no corpo com palavras impronunciáveis. Podiam mesmo ser uma palavra inventada por vocês! Exemplo: Aldroniano - Sábio de cabelos loiros e olhos verdes.

Numa tarde de café, a cara D. fez-me a mesma pergunta que lhe tinham feito numa aula de uma cadeira de nome pomposo (do seu curso respeitável).

"Diz-me numa frase, aquilo que és..."

Bebi o meu café e disse:

"um esquisso daquilo que quero ser..."

Mil perdões D., precipitei-me. Sou aquele que tem um sobretudo forrado a post its, com todos os rótulos dos baratos.


Eu não uso sobretudo.

sábado, agosto 21, 2004

Destinos



copyright Paulo Silva

segunda-feira, agosto 02, 2004

a procura

Saudades do Outono...