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domingo, maio 21, 2006

Recolher

Abro o pacote de açúcar, e bagos caem vertiginosos sobre a mesa. Embatem uns contra os outros ignorando a sorte. A minha sorte, e a deles mesmos também. Como dados no casino. "Perdeu...quer continuar?"

"Sim, claro!" Digo eu "Se não desistirmos é como se nunca realmente fossemos derrotados."
Estou a tentar a minha sorte novamente (Tentar de tentação. De provocação). Estou a tentar a minha sorte a expor-se, já que teima em não comparecer nos encontros que combino. Nos becos e encruzilhadas da minha vida.

Todos temos necessidade, de quando em quando, recolher. Recolher à praia, ao campo, á casa de árvore da infância, á igreja, ao café (de preferência duplo).
Sentimos a falta de estar connosco mesmos. Sem interferências.
Desligamos o telemóvel, escondemos o comando da TV e ficamos cara a cara com os nossos fantasmas.
Todos temos necessidade de, quando em quando, recolher. Para sentirmos a fundo a insuportável fragrância da solidão.
Depois... ligamos o telemóvel, a TV. Mensagens novas, feixes de electrões controlados, propostas de café, saudades vãs, sonhos olímpicos desfeitos.

Os dados rolam novamente...



[ café, Monte da Caparica, Agosto de 2004 (provavelmente) ]

Assistolia

Apetece-me chorar enrolado nos lençois.
Porque a cama está demasiado vazia... e tu estás aí! A um pulinho!

Um salto entre corações, nos intervalos... entre o bater síncrono dos dois.

domingo, maio 07, 2006

150 Anos

Aonde quer que chegue,
descubro sempre que o poeta já lá esteve

Sigmund Freud


Ps - Apesar de não saber puto sobre ele, parece que toda a gente "sabe" das suas teorias sobre a sexualidade das crianças...fica sempre bem falar do que não se conhece, dando o ar mais inteligente do mundo. Problemas de cama?

...Freud explica.

sábado, maio 06, 2006

Cucu

para trás, ficaste tu, eu e todo resto, o “tudo” que fomos, o “tudo” que não partilhámos e o nada que restou.


in arca da cucu


Ps - Frase oportuna da minha amiga, e impulsionadora do Caderno Azul.

terça-feira, maio 02, 2006

Hiena


A hiena gosta dos blindados imobilizados no deserto
porque as suas tripulações
estão mortas.
Ela pode esperar. Ela espera
até que mil e uma tempestades de areia
tenham corroído o aço.
Então
chega a sua hora.

A hiena é o animal heráldico das matemáticas.
Ela sabe que não deve haver resto.

Seu deus é o zero.


HIENA
[Heiner Müller - Adolfo Luxúria Canibal / Adolfo Luxúria Canibal]