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domingo, dezembro 28, 2003

The end.

toq
toq
toq...

subo a calçada em passo lento...
desces dois degraus das escadas e chamas-me:

Bruno
Bruno!

adio o quarto passo e olho-te sob o ombro, sem me virar.
Ensaias um beijo, e lanças-o à noite. O baton do cieiro e humidade da tua boca misturam-se no ar gelado e seco.
O beijo atravessa o vidro embaciado do carro parado à tua porta. Dança no velocímetro, nos bancos, no arbaig.
Entranha-se nos cabelos loiros-a-fingir da peaches. Que grita, corre e salta para os fanáticos do electro.
Miss peaches faz questão de mostrar que pelos nas axilas não a incomodam. Mostra-os com orgulho. Como uma qualquer feminista que recusa a moldar-se aos hábitos machistas da sociedade. Despe-se entre os gritos histéricos de homens e mulheres. Não diz nenhum cliché a favor da sua classe. Ser objecto sexual é a sua carreira. Em tempos foi prostituta e não parece que tenha deixado de o ser. Afinal, continua a vender o corpo. A música está lá como as luzes...apenas para gerar ambiente. O microfone entra e sai de sítios a que está pouco acostumado. "Sou objecto sexual e gosto" escrito por todo o corpo, pelo menos o que não está coberto de tecido(que não é muito).
Peaches "vomita" um corante cor de sangue. Não sei quem, pouco me interessa, mas gostou muito de levar com ele na cara. 2 encores, a coisa está arrumada e vamos para o bar.
O beijo espreita-me. Esconde-se atrás das pessoas, num copo qualquer, num puff, nos lábios alheios até. Persegue-me.
Danço...porque sim. Porque todos o estão a fazer. Porque não eu? Não ligo muito à música, a não ser que me faça lembrar alguma noite kitten ou que J. me chame a atenção. Neste jogo de luz e sombra, intercepto alguns olhares. Que julgo, a princípio, serem dirigidos à minha pessoa. Mas são apenas para o beijo que não ligo. Aquele que agora está mesmo atrás de mim. Naquela rapariga que dança de olhos fechados.
Suspiro e torno a olhar em frente. Vapor de água, Co2, restos de esperança. Esse soltar de tudo bloqueia o teu beijo. E ele cai por terra. Mistura-se na humidade da calçada e torna-se num nada. É pincelada negra na noite. Nessa tela que sempre gostei de ver nos filmes. Aquela do final.
Aquela que dizia... The end.

toq
toq
toq

...