debaixo da pele/Atrasos
fecho a porta e corro...corro para me esquivar das espessas gotas que, ao cair no chão, fazem tic tac. Esse tiquetaquear faz com que salte esta possa aqui e me molhe ali. O tempo escorre-me plo corpo. Está no meu cabelo e desliza pelo casaco até se consumir no chão.
Ao chegar a estação todo eu sou tempo...tempo que não tenho. Quase que choco com uma rapariga que sai do "passe" e se desfaz em obrigados e desculpas que não ligo. Os senhores da minha sala de chuto riem-se:
- « café, se faz favor. »- por entre a respiração ofegante.
Limpo a cara com os guardanapos mesmo ao lado. Olho prós que estão a chutar (como eu) e para outros, os que estão a volatilizar as ideias.
Bebo o café num trago e corro para o comboio. Pouso o casaco encharcado no banco a meu lado. Oiço a conversa da autoridade (esta semana, este comboio e estação deixou de ser vermelha e cinzenta para passar a ser azul). Mas fico com os olhos presos noutro azul. No do meu casaco que não seca.
"sabes...por mais que te tivesse observado naquela noite...na despedida. Não te consegui decorar por inteiro. deixei escapar o que estava por baixo da pele...."
surge na minha sequência de ideias como imagem subliminar. Daquelas que ficam no subconsciente, para nos atormentar em noites mal dormidas. Ideia "que não atinge um nível que manifeste a sua presença" mas que, com o passar de estações, se torna consciente.
Penso no que devia de dizer e não disse...no que devia de ter feito e não fiz.
N. interrompe o meu estado de hipnose (de todos os dias) com um telefonema. Adivinhava-se, estou muito atrasado.
Chego a estação do Areeiro e guerreio com o eclair para me proteger da chuva que me persegue...do tempo que não tenho. (Re)inicio a minha maratona. E, por breves instantes, chego mesmo a ouvir musica.
"I whant to be a Hunter...In search of diferent food".
Como se fosse dito pelas pessoas que acabo (a custo) de contornar.
tic taq...tic taq...splash
tic taq...tic taq...splash
tic taq...tic taq...splash
Chego a estação de metro agarrado aos pulmões. Encosto-me a parede para recuperar fôlego, sempre atento ao "TINTÃO" que nunca mais vem.
Quando chego ao Oriente, já J. e B. estavam a espera. Tiveram tanto tempo a espera que, enquanto apanhava N. plo caminho, me telefonaram a perguntar quantas. Disse 3. Com o resto do atraso compraram-nas. Todos acharam um número demasiado expressivo.
Abri a segunda enquanto o comboio tentava igualar-me em atraso. E foi já dentro do lux que me dei conta das expressivas 3. Que em pouco tempo transformei em 4. Nunca fui pessoa de ficar com ela muito tempo na mão.
O ClubKitten estava a falhar "como as notas de 5". E estava a ficar muito preocupado. Afinal, queria impressionar B. e N. que se fartaram de ouvir as histórias das noites Kitten.
Sentámo-nos num puff e ficamos como todos os grupo de jovens males que não são gays...a observar. Uma vez ou outra falamos disto ou daquilo mas...a nossa espécie não foi feita para arranjar facilmente temas de conversa. E voltamos ao de sempre.
Num desses momento passam um grupo de "belas femas" e o meu campo de visão ficou preso a uma cor. O laranja torna-se a moda, mediana e tudo mais para a minha retina. À deriva na cor, não me apercebo que ela me olha da mesma forma. Os minutos seguintes foi uma correria desgraçada. Um olhar fugidio por cada vez que passa, falsa timidez. 4 são talvez vezes demais para ir para a WC em 5 minutos.
Quando volto da WC(uma por cada uma das expressivas) encontro Orange sentada no meu lado do puff. Tentando esconder a surpresa, sento-me no espaço "livre". Ela desvia-se pronta e bruscamente para o lado contrario.
- «Não te incomodes!» - primeiro e último contacto verbal com a cor.
Mais tarde apercebi-me que, o que tinha em seios, faltava-lhe em neurónios.
O bar torna-se pista de dança. E sinto a festa no ar. Era xamon.
Tudo se torna mais apertado e, da mesma forma que antes estava molhado por fora... estou agora por dentro. Dispo a fina camisola e deixo exposta a tshirt dos Broa. Daí para a frente, o que julgava ser olhares provocantes era apenas formas de descodificar as palavras que apareciam desfocadas, tremidas, cortadas ao sabor da minha dança.
....................esta...
.....que
...........altura
Depois de sorrisos, de palavras imperceptíveis por causa da música, duas belas moças sorridentes param a minha frente abraçadas. Dizem qualquer coisa que a muito custo tento ouvir...mas não oiço nada. Se ao menos tivesse perguntado em vez de estupidamente sorrir de volta...
Uma italiana pergunta se tenho cigarros. Digo que não, e parte pra outro e outro e outro... tantos que, enquanto a observo na sua saga outra italiana me pede o mesmo. De um modo diferente. Sem me olhar na cara. Apenas com a mão no meu peito balbuciando as mesmas palavras, como judeu no muro das lamentações. Chama-me de mentiroso com sorriso nos lábios que desfaz ao ritmo que me alongo nas minhas justificações e desculpas.
A primeira italiana reaparece triunfante de cigarro na mão e alça do soutien descaída. Ainda a tenta repor no seu devido lugar mas...muda de ideias e expõe toda a nudez dos seus ombros. Provocando o desejo de que essa nudez se propagasse por todo o corpo.
Quando vou colocar a último cartucho, rotulado de sagres, encontro as raparigas sorridentes sentadas num sofá vermelho. Mesmo ao lado da mesa onde coloco a garrafa. Uma levanta-se subtilmente e levanta os braços como Marilyn Monroe. Sorrio e faço o mesmo, como quem faz a saudação inicial num campeonato de ginastica. J. N. B. estão no meio da "pista" mesmo ao lado do gajo de fato gravata e chapéu preto. Talvez plos cabelos compridos, talvez plo ar meio elfo...fez-me lembrar o grilo do pinóquio. Mais estranho ainda é ser amigo da Marilyn, que rodopia a seu lado. Quando ela repara em mim...franze os olhos sorrindo, de uma forma teatral. Beija a mão e sopra para ninguém. Da mesma forma que o recebo na mão e finjo guardar no peito...onde está escrito: "que melhor altura senão esta..."
Chego à estação mesmo a tempo de dizer adeus, com comboio a partir. Um raio de luz reprimido desperta-me para o novo dia...o atraso esse, continuava o mesmo.
Ao chegar a estação todo eu sou tempo...tempo que não tenho. Quase que choco com uma rapariga que sai do "passe" e se desfaz em obrigados e desculpas que não ligo. Os senhores da minha sala de chuto riem-se:
- « café, se faz favor. »- por entre a respiração ofegante.
Limpo a cara com os guardanapos mesmo ao lado. Olho prós que estão a chutar (como eu) e para outros, os que estão a volatilizar as ideias.
Bebo o café num trago e corro para o comboio. Pouso o casaco encharcado no banco a meu lado. Oiço a conversa da autoridade (esta semana, este comboio e estação deixou de ser vermelha e cinzenta para passar a ser azul). Mas fico com os olhos presos noutro azul. No do meu casaco que não seca.
"sabes...por mais que te tivesse observado naquela noite...na despedida. Não te consegui decorar por inteiro. deixei escapar o que estava por baixo da pele...."
surge na minha sequência de ideias como imagem subliminar. Daquelas que ficam no subconsciente, para nos atormentar em noites mal dormidas. Ideia "que não atinge um nível que manifeste a sua presença" mas que, com o passar de estações, se torna consciente.
Penso no que devia de dizer e não disse...no que devia de ter feito e não fiz.
N. interrompe o meu estado de hipnose (de todos os dias) com um telefonema. Adivinhava-se, estou muito atrasado.
Chego a estação do Areeiro e guerreio com o eclair para me proteger da chuva que me persegue...do tempo que não tenho. (Re)inicio a minha maratona. E, por breves instantes, chego mesmo a ouvir musica.
"I whant to be a Hunter...In search of diferent food".
Como se fosse dito pelas pessoas que acabo (a custo) de contornar.
tic taq...tic taq...splash
tic taq...tic taq...splash
tic taq...tic taq...splash
Chego a estação de metro agarrado aos pulmões. Encosto-me a parede para recuperar fôlego, sempre atento ao "TINTÃO" que nunca mais vem.
Quando chego ao Oriente, já J. e B. estavam a espera. Tiveram tanto tempo a espera que, enquanto apanhava N. plo caminho, me telefonaram a perguntar quantas. Disse 3. Com o resto do atraso compraram-nas. Todos acharam um número demasiado expressivo.
Abri a segunda enquanto o comboio tentava igualar-me em atraso. E foi já dentro do lux que me dei conta das expressivas 3. Que em pouco tempo transformei em 4. Nunca fui pessoa de ficar com ela muito tempo na mão.
O ClubKitten estava a falhar "como as notas de 5". E estava a ficar muito preocupado. Afinal, queria impressionar B. e N. que se fartaram de ouvir as histórias das noites Kitten.
Sentámo-nos num puff e ficamos como todos os grupo de jovens males que não são gays...a observar. Uma vez ou outra falamos disto ou daquilo mas...a nossa espécie não foi feita para arranjar facilmente temas de conversa. E voltamos ao de sempre.
Num desses momento passam um grupo de "belas femas" e o meu campo de visão ficou preso a uma cor. O laranja torna-se a moda, mediana e tudo mais para a minha retina. À deriva na cor, não me apercebo que ela me olha da mesma forma. Os minutos seguintes foi uma correria desgraçada. Um olhar fugidio por cada vez que passa, falsa timidez. 4 são talvez vezes demais para ir para a WC em 5 minutos.
Quando volto da WC(uma por cada uma das expressivas) encontro Orange sentada no meu lado do puff. Tentando esconder a surpresa, sento-me no espaço "livre". Ela desvia-se pronta e bruscamente para o lado contrario.
- «Não te incomodes!» - primeiro e último contacto verbal com a cor.
Mais tarde apercebi-me que, o que tinha em seios, faltava-lhe em neurónios.
O bar torna-se pista de dança. E sinto a festa no ar. Era xamon.
Tudo se torna mais apertado e, da mesma forma que antes estava molhado por fora... estou agora por dentro. Dispo a fina camisola e deixo exposta a tshirt dos Broa. Daí para a frente, o que julgava ser olhares provocantes era apenas formas de descodificar as palavras que apareciam desfocadas, tremidas, cortadas ao sabor da minha dança.
....................esta...
.....que
...........altura
Depois de sorrisos, de palavras imperceptíveis por causa da música, duas belas moças sorridentes param a minha frente abraçadas. Dizem qualquer coisa que a muito custo tento ouvir...mas não oiço nada. Se ao menos tivesse perguntado em vez de estupidamente sorrir de volta...
Uma italiana pergunta se tenho cigarros. Digo que não, e parte pra outro e outro e outro... tantos que, enquanto a observo na sua saga outra italiana me pede o mesmo. De um modo diferente. Sem me olhar na cara. Apenas com a mão no meu peito balbuciando as mesmas palavras, como judeu no muro das lamentações. Chama-me de mentiroso com sorriso nos lábios que desfaz ao ritmo que me alongo nas minhas justificações e desculpas.
A primeira italiana reaparece triunfante de cigarro na mão e alça do soutien descaída. Ainda a tenta repor no seu devido lugar mas...muda de ideias e expõe toda a nudez dos seus ombros. Provocando o desejo de que essa nudez se propagasse por todo o corpo.
Quando vou colocar a último cartucho, rotulado de sagres, encontro as raparigas sorridentes sentadas num sofá vermelho. Mesmo ao lado da mesa onde coloco a garrafa. Uma levanta-se subtilmente e levanta os braços como Marilyn Monroe. Sorrio e faço o mesmo, como quem faz a saudação inicial num campeonato de ginastica. J. N. B. estão no meio da "pista" mesmo ao lado do gajo de fato gravata e chapéu preto. Talvez plos cabelos compridos, talvez plo ar meio elfo...fez-me lembrar o grilo do pinóquio. Mais estranho ainda é ser amigo da Marilyn, que rodopia a seu lado. Quando ela repara em mim...franze os olhos sorrindo, de uma forma teatral. Beija a mão e sopra para ninguém. Da mesma forma que o recebo na mão e finjo guardar no peito...onde está escrito: "que melhor altura senão esta..."
Chego à estação mesmo a tempo de dizer adeus, com comboio a partir. Um raio de luz reprimido desperta-me para o novo dia...o atraso esse, continuava o mesmo.
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