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quarta-feira, outubro 15, 2003

O semaforo da Praça de Londres

Chegou ao jardim eram uma cinco da tarde. Um saco de plástico numa mão, uma monte de gravilha na outra. Sentou-se num banco que por ali achou seco e respirou fundo. Filha da puta de dia. Desde as seis da manhã de pé. Não que os relogios contassem alguma coisa quando se vive assim. Eram toques de sino na igreja branca do outro lado da estrada.

Olhou os amores-perfeitos no canteiro ao lado e pelo canto do olho viu-os aproximarem-se. Os malandros. Sempre à cata do mesmo. Cá vos espero. Pensou nos amores-perfeitos. Que nome imbecil, está tudo trocado. Os dentes-de-leão sim, deveriam-se chamar amores-perfeitos. Com um sopro desfazem-se. Os amores-perfeitos deveriam-se chamar apenas flores-bonitas ou flores-bonitas-e-pequeninas-cheias de cores. Agora amores-perfeitos. Há coisa que nem lembra ao diabo.

O ruido mostra-os cada vez mais proximos. O andar idiota chama a atenção. Detesto pombos. Mal me sento aqui voam sabe lá deus donde para me aborrecer. Merda de vida. Esvazioa mão com uma calma de santo a apedrejar inimigos. Longe da aqui, andem! Talvez seja o mau cheiro que os atrai, sei lá. Não tenho culpa de viver na rua.

Acendoum cigarro cravado à pouco no semaforo. Ainda há gente boa. Que me julgam doido já não é novidade. Sou um velho de barba suja, camisa rota, calças manchadas. Ainda por cima ando sempre a rir. É normal que me achem doido. Eu proprio penso o mesmo. Um velho nojento e doido que crava cigarros à meninas entre conversas improprias. Corja de cabras inuteis, pombos sujos....

Nem sei porque que raio ou como vim parar a Lisboa.