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terça-feira, setembro 23, 2003

In A Fast German Car I'm Amazed How I Survived

Musica do Dia : Radiohead - Airbag

Conduzi o carro com cuidado. Com cautela. De uma forma defensiva. Não obrigatoriamente devagar, porque a tal não me sinto obrigado. Abro a janela ao escuro da noite e deixo o frio entrar. A realidade toda existe à  minha frente, nos cones de luz projectados pelos farois do carro. Acelero. A estrada desfila sob mim sem grandes curvas, rodeada de pequenas arvores e arbustos que se curvam ao meu caminho. Do retrovisor tenho medo. Quando travo, mesmo ao de leve, a luz de stop acende-se e um mundo inteiro diabolico acontece atrás de mim. O vermelho enche o escuro, suavemente, apenas por um instante. Juro ver um homem, o diabo um monstro lá atrás, a correr entre duas arvores. Depois tudo se apaga para ele aparecer de novo, cada vez menos discreto, um pouco mais à frente noutra curva qualquer. Passo por uma pequena aldeia. É escura, ninguém me ouve, as crianças talvez já estejam a dormir ou mortas. A noite de insectos alados e má¡gicos colide em pancadas moles com o parabrisas. Uma curva, depois outra, ainda mais outra. Acendo um cigarro e espero que algo aconteça. Uma bomba, o rebentar de um pneu, a queda de um cometa. Algo diferente, violento. Que se foda a segurança.
Chego finalmente ao cruzamento. Há uma casa que me espera no alto da colina. Olho o conta-quilometros e descubro que fiz 150Km numa viagem que podia ter feito em vinte. Demorei-me, dei-te tempo homem maldito e nada aconteceu. Paro o carro à  porta da casa impecávelmente cuidada com um sentimento de raiva e desilusão. Amanhã. Talvez amanhã.