"A morte de um cidadão"
Hoje é mais um dos muitos dias tristes que a vida tem. Cheguei há pouco a casa, depois de assistir ao funeral do melhor amigo do meu filho. Chamava-se Sérgio. No domingo assistiu como todos nós às imagens da morte em directo do jogador do Benfica Fehér. Despediu-se dos pais e foi dormir, porque precisava de acordar cedo para ir trabalhar. Infelizmente o Sérgio, de 28 anos, morreu durante o sono aparentemente por uma paragem cardíaca.
Com a morte do Sérgio, o meu filho João, da mesma idade, ficou em estado de choque, pois assim sem mais nem menos ficara sem o amigo que considerava desde os bancos da escola como um segundo irmão. E mais revoltado com a injustiça da vida ficou, ao recordar a morte do verdadeiro irmão, o meu querido filho Luís, atropelado num passeio há precisamente sete anos por um indivíduo alcoolizado que conduzia com uma taxa de 3,5g/l.
O Luís estava a terminar Agronomia e o Sérgio tinha terminado Engenharia na vertente de construção civil. Não eram futebolistas. Não mereceram as condolências do primeiro-ministro nem do Presidente da República. Não mereceram uma linha nos jornais, nem uma imagem nas televisões.
O meu jornal de referência, o Público, mais parecia, na sua edição de terça-feira, um desses jornalecos futeboleiros ditos "desportivos". Lamento-o profundamente. Não pela publicação da notícia sobre a morte do jogador que toda a gente lamenta, mas pelo exagero da reportagem. Era um jovem de 24 anos, não fez 25, exactamente como o meu filho Luís. Só que a morte do Luís e do Sérgio, cidadãos anónimos, excepcionais, provocou nos seus entes queridos a dor e a profunda tristeza para resto da vida; mas como dizia o poeta Chico Buarque numa das suas canções: "A dor da gente não sai no jornal."
António José Pires da Silva
Porto Salvo
in Público 30Jan 2004
Com a morte do Sérgio, o meu filho João, da mesma idade, ficou em estado de choque, pois assim sem mais nem menos ficara sem o amigo que considerava desde os bancos da escola como um segundo irmão. E mais revoltado com a injustiça da vida ficou, ao recordar a morte do verdadeiro irmão, o meu querido filho Luís, atropelado num passeio há precisamente sete anos por um indivíduo alcoolizado que conduzia com uma taxa de 3,5g/l.
O Luís estava a terminar Agronomia e o Sérgio tinha terminado Engenharia na vertente de construção civil. Não eram futebolistas. Não mereceram as condolências do primeiro-ministro nem do Presidente da República. Não mereceram uma linha nos jornais, nem uma imagem nas televisões.
O meu jornal de referência, o Público, mais parecia, na sua edição de terça-feira, um desses jornalecos futeboleiros ditos "desportivos". Lamento-o profundamente. Não pela publicação da notícia sobre a morte do jogador que toda a gente lamenta, mas pelo exagero da reportagem. Era um jovem de 24 anos, não fez 25, exactamente como o meu filho Luís. Só que a morte do Luís e do Sérgio, cidadãos anónimos, excepcionais, provocou nos seus entes queridos a dor e a profunda tristeza para resto da vida; mas como dizia o poeta Chico Buarque numa das suas canções: "A dor da gente não sai no jornal."
António José Pires da Silva
Porto Salvo
in Público 30Jan 2004
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